Desde a fachada, antes de entrar na porta do muro
da escola, aquele sentimento arredio toma conta do meu ser.
- Professora! Por que você veio dá aula? Perguntam
vários alunos gritando, todos falando
ironicamente.
Não tendo respostas, ando até o portão. Uma aluna
vem e dá um beijinho na minha face e sorri. Refaço as forças. Ultrapasso o
portão de entrada, vou à sala e me junto aos colegas. O assunto? Quase o mesmo.
- A minha turma está quase metade sem fazer nada.
As crianças, mesmo nessa idade, com dez anos, sete anos, oito anos, nada
querem? Diz uma das colegas professoras, com semblante angustiado, olhos cansados, expressão facial triste e a
angústia saltitando a face.
- Eu ontem, para dá aula tive que tirar aluno tal
da sala. Não dava, ele subiu em cadeiras, me respondeu mal, brigou com os
colegas. Ave Maria! Não sei
Em pouco tempo, mais de quatro professoras
expressam exemplos negativos de sua sala de aula. Contam histórias nas quais,
nenhuma delas inclui aquele velho, antigo mesmo, exemplo de aluno tal que está
com uma boa nota, que é inteligente e sabe tudo. Este animal está em extinção
há muito tempo. E eu observo isso com uma vontade imensa de mudar.
- Mas sozinha? Como? Eu pensei.
- Ontem, na reunião de planejamento falamos sobre
isso. Eu apresentei à gestão e coordenação pedagógica que os alunos estão
assim, e está difícil. Mas, como não há o que fazer sem a presença dos pais.
Infelizmente, os pais desses alunos não vêm à escola, nem sabem o que filho faz
aqui. Comenta a outra colega.
- É isso. Mas, eu estou cumprindo meu dever. Planejo
e executo minha aula. Estou cumprindo meu horário e recebendo meu salário. Finaliza
mais uma das colegas que vem entrando na sala de professores.
- Ôpa! Bom dia! Entra a diretora da escola na sala.
- Bom dia! Respondemos em coro.
- Vocês já viram o aviso no mural? Amanhã tem reunião.
- Eu vi! Alguém responde desanimado.
Faz tempo que eu olho para essa história tão repetitiva
e tão sem resultado.
- Será por isso que é repetitiva? Eu reflito ali na
minha mente.
Faz tempo que me desiludi com as tais "reuniões pedagógicas".
É um momento de muita conversa e de pouca ação. Não gosto. É um lugar de
denúncia e não de montagem de estratégia. Não é lugar para mim. Às vezes eu
somente escuto e nada falo. Se eu falar corro o risco de ser lixada. Calo-me...
Para sempre. No outro dia eu volto à sala dos professores. Novidades? Nenhuma
boa. Somente a de que mais um aluno se corrompeu e foi expulso.
- Mas ele era tão comportado! O que houve?
Escuto e fico ali pensando o que fazer quando
entrar na sala de aula. Vou me preparando para escutar:
- Você vai da aula até que horas?
- Vai ser prova?
- Você vai soltar nós?
- Vamos fazer a atividade e ser liberados?
Pergunto-me:
- Será que estamos todos presos?
A sirene toca, a sala dos professores fica ali
guardando a minha indignação, silenciosa. Ela é minha confidente mais fiel.
Por Mônica Freitas
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