domingo, 25 de maio de 2014

CRÔNICA: SALA DE PROFESSORES




Desde a fachada, antes de entrar na porta do muro da escola, aquele sentimento arredio toma conta do meu ser.
- Professora! Por que você veio dá aula? Perguntam vários  alunos gritando, todos falando ironicamente.
Não tendo respostas, ando até o portão. Uma aluna vem e dá um beijinho na minha face e sorri. Refaço as forças. Ultrapasso o portão de entrada, vou à sala e me junto aos colegas. O assunto? Quase o mesmo.
- A minha turma está quase metade sem fazer nada. As crianças, mesmo nessa idade, com dez anos, sete anos, oito anos, nada querem? Diz uma das colegas professoras, com semblante angustiado,  olhos cansados, expressão facial triste e a angústia saltitando a face.
- Eu ontem, para dá aula tive que tirar aluno tal da sala. Não dava, ele subiu em cadeiras, me respondeu mal, brigou com os colegas. Ave Maria! Não sei
mais o que fazer. Acrescenta a outra colega.
Em pouco tempo, mais de quatro professoras expressam exemplos negativos de sua sala de aula. Contam histórias nas quais, nenhuma delas inclui aquele velho, antigo mesmo, exemplo de aluno tal que está com uma boa nota, que é inteligente e sabe tudo. Este animal está em extinção há muito tempo. E eu observo isso com uma vontade imensa de mudar.
- Mas sozinha? Como? Eu pensei.
- Ontem, na reunião de planejamento falamos sobre isso. Eu apresentei à gestão e coordenação pedagógica que os alunos estão assim, e está difícil. Mas, como não há o que fazer sem a presença dos pais. Infelizmente, os pais desses alunos não vêm à escola, nem sabem o que filho faz aqui. Comenta a outra colega.
- É isso. Mas, eu estou cumprindo meu dever. Planejo e executo minha aula. Estou cumprindo meu horário e recebendo meu salário. Finaliza mais uma das colegas que vem entrando na sala de professores.
- Ôpa! Bom dia! Entra a diretora da escola na sala.
- Bom dia! Respondemos em coro.
- Vocês já viram o aviso no mural? Amanhã tem reunião.
- Eu vi! Alguém responde desanimado.
Faz tempo que eu olho para essa história tão repetitiva e tão sem resultado.
- Será por isso que é repetitiva? Eu reflito ali na minha mente.
Faz tempo que me desiludi com as tais "reuniões pedagógicas". É um momento de muita conversa e de pouca ação. Não gosto. É um lugar de denúncia e não de montagem de estratégia. Não é lugar para mim. Às vezes eu somente escuto e nada falo. Se eu falar corro o risco de ser lixada. Calo-me... Para sempre. No outro dia eu volto à sala dos professores. Novidades? Nenhuma boa. Somente a de que mais um aluno se corrompeu e foi expulso.
- Mas ele era tão comportado! O que houve?
Escuto e fico ali pensando o que fazer quando entrar na sala de aula. Vou me preparando para escutar:
- Você vai da aula até que horas?
- Vai ser prova?
- Você vai soltar nós?
- Vamos fazer a atividade e ser liberados?
Pergunto-me:
- Será que estamos todos presos?
A sirene toca, a sala dos professores fica ali guardando a minha indignação, silenciosa. Ela é minha confidente mais fiel.


Por Mônica Freitas 

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